quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um amor ou uma saia?



Após dias matutando em como iniciar uma perseguição às escondidas atrás de um “alguém” qualquer, que poderia encontrar pelas ruas ou bares de Floripa, resolvi sentar no Mercado Público da capital e observar aquela multidão que ia e vinha sem parar. Parecia um formigueiro. Umas com sacolas de compras, outras com muitos ovos de Páscoa nas mãos, para quem seriam? Para um neto, um filho, uma mãe que adora chocolate, um novo amor ou um amante em segredo? Tantas opções. Tantas emoções. Tantos sentimentos que afloram no “eu” de cada uma daquelas pessoas.

Reparei atentamente uma moça. Há tempos ela estava parada no mesmo local. Talvez, quase o mesmo que eu sentada naquela cadeira dura. Cabelos longos, pintados de loiro, pele clara e olhar triste. Parecia que estava à espera de alguém que nunca chegava. Olhava incessantemente ao relógio. Estava ansiosa. Seu amor se atrasara? Será que ele viria? Será que eu seria testemunha ocular de um encontro fortuito entre dois amantes? Milhões de idéias me vinham a mente. Como se eu tivesse o poder de adivinhar o que se passava por aquela mente que jamais vi na vida e que provavelmente jamais conheceria.

O telefone toca, ela atende apressada ao primeiro toque. O olhar que já era triste tornou-se sombrio. Quem seria? Alguém se desculpando pelo atraso? Cancelando-o? Ao desligar, ela olha novamente pro relógio, olha em sua volta e começa disfarçadamente a andar, como se tivesse vergonha por ter sido deixada esperando por alguém que não veio. Resolvo segui-la, talvez ela tenha errado o local do encontro e a pessoa a esperava em outro lugar. Sinto-me curiosa, quase ao ponto de sentir vontade de perguntá-la. Por que aquele olhar tão triste? Para quem seria aquele presente que carregava na mão? Por que andava de forma a não saber para onde ir?

Após caminhar algumas ruas adiante do Mercado percebi que ela chorava. Tentava disfarçar colocando o cabelo na frente do rosto. Estava visivelmente transtornada. Suas mãos tremiam ao pegar o telefone e discar para alguém. Aproveitei-me da situação para me aproximar e observar a vitrine enquanto ela aguardava alguém atender sua chamada. Sim! Estava certa! Chorava por amor! Era aniversário do seu “querido”. Assim ela o chamava. Mas eis que ele não viria ao encontro e pior, terminou com ela por telefone. Ela chorava, caminhava de um lado para o outro, berrava ao telefone, querendo uma razão que justificasse tamanho descaso. Como se essas coisas de “amor” tivessem explicação lógica...

A moça loira desistiu de ser racional e após alguns palavrões desligou o telefone e voltou a chorar, dessa vez sem vergonha da sua situação... Chorava copiosamente como se tivesse perdido a coisa mais importante de sua vida. Talvez o fosse para ela. Minha vontade era de falar: Ei! Levante a cabeça, enxugue essas lágrimas e não deixe esse amor ser maior que o seu amor próprio! Mas me contive, pois acabaria deixando-a ainda mais constrangida e perderia minha crônica.

Ela voltou a andar a esmo pelas ruas da cidade. Meus pés já estavam cansados. Não sei quantas vezes passei pelos mesmos lugares, ela parecia não se dar conta. Como se fosse uma mosca zanzando em volta de si mesma. Enfim, parou em frente a uma loja e trocou o presente comprado. Trocou por uma bela saia. Experimentou, se sentiu bonita de novo. Saiu rindo da loja, já usando aquela peça de roupa, como se aquele gesto fosse uma pequena vingança, que somente ela saborearia.

Voltou a caminhar pela cidade, agora decidida. Ligou para alguém. Pensei comigo que estaria ligando de novo para o tal “amor”. Mas não, ela ria ao telefone. Combinou alguma coisa e seguiu em direção oposta as mediações do Mercado. Caminhava firme, decidida, quase feliz!

Entrou num bar. Sentou-se e pediu algo para beber. Em seguida chegou uma amiga. Morena, alegre, de sorriso cativante. Já chegou dizendo que sabia que ele não prestava! Às gargalhadas disse que a vida era assim, um dia beija, no outro não se sabe, mas logo chega segunda e a vida continua. Lembrei de Drummond que escreveu algo parecido. Penso que ela se referia a ele, inclusive. Aos poucos a loira foi relaxando e após algumas cervejas parecia até feliz balançando a saia que outros rapazes não cansavam de virar o pescoço para admirar.

Não sei como terminou a noite da loira e da morena, na certa encontraram novos amores. Precisei ir embora e cuidar do meu amor, que aquela altura já havia ligado mais de cinco vezes, preocupado com minha aventura em perseguir uma desconhecida pelas ruas da capital. Ao me encontrar com ele, pensei: se um dia fizer isso comigo, comprarei uma saia! E ri sozinha!

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